domingo, 15 de janeiro de 2012

"Ai se eu te pego", COMO ENLOUQUECER PESEUDO INTELECTUAIS



Certa vez, eu estava conversando com um grande amigo meu sobre livros. Me lembro que naquela época tinha sido lançado recentemente o livro "Código da Vinci". Meu amigo não tinha lido o livro, e para justificar o fato usou uma razão simples, que segundo suas próprias palavras era: "Não gosto de livros que são muito populares". De forma alguma posso questionar a razão pela qual ele deixou de ler o livro, mas com certeza é no mínimo interessante o motivo alegado por ele. Com certeza ele não é o único a se sentir assim, mas acredito que seja um dos poucos a manifestar publicamente sua rejeição contra algo que seja popular. Ainda assim, em nenhum momento ele vinculou popularidade com qualidade, ou seja, ele não disse que pelo fato do livro ser popular significa que ele seria ruim. No entanto, e muito comum a associação entre popularidade e qualidade, em que na maioria das vezes pessoas que se acham detentoras de uma inteligência superior rotulam tudo que é popular como desprovido da profundida necessária para alimentar seus intelctos.

No Brasil, o atual sucesso da música "Ai se eu te pego", na versão do cantor Michel Teló tem levantado grandes discussões nas mídias eletrônicas de todos os tipos, em que uma parte (MAIOR) do público venera o artista e seu sucesso, e a outra parte (MENOR) crítica a primeira parte alegando que o sucesso é um reflexo da ignorância da audiência brasileira. Podemos também citar outros exemplos que vão além do campo musical, como por exemplo, o Big Brother, programa de grande sucesso no Brasil, e que teve a estréia da edicão de número 12 no dia 10 de janeiro no Brasil. Quando se refere ao BB os crítcos alegam que o programa banaliza os valores da sociedade e família, em que pessoas sem conteúdo nenhum se promovem apenas através de seus corpos malhados e imagens falsas. Além disso, existem os casos dentro do mundo literário, como o que já citei do Códido da Vinci, ou ainda como nos livros do popular autor Paulo Coelho, que são criticados agressivamente dentro da esfera acadêmica.

Todos os exemplos que eu citei acima tem em comum uma imensa popularidade dentro do Brasil e também fora do Brasil. A revista ÉPOCA (edição 711) publicou uma resportagem especial a respeito do cantor Michel Teló, e do sucesso da música "Ai se eu te pego". Na matéria publicada na revista, o cantor e o seu sucesso foram colocados como a nova expressão da cultura brasileira e com grande exposição no exterior. Tal afirmações foram o estopim para uma chuva de críticas, todas repudiando tamanho status para o cantor. A letra da música tem no refrão os seguintes dizeres:
"Nossa, nossa
Assim você me mata
Ai se eu te pego
Ai ai se eu te pego

Delícia, delícia
Assim você me mata
Ai se eu te pego
Ai ai se eu te pego"

 Acredito que preferência musical, de programa de tv ou de livros, é algo bastante pessoal e discutir esse tema é, com certeza, uma tarefa muito difícil. Justamente por reconhecer a subjetividade dessa discussão que é importante reconhecer os méritos de tudo que adquiri grande popularidade. A versão de "Ai se te pego" interpretada por Michel Teló se tornou grande sucesso, porque com certeza aliou uma melodia "pegajosa" com uma letra simples e extramamente sexual. Todo esse arranjo é o que acredito que tenha conspido para a popularidade da música e reflete SIM o que os brasileiros, e ao que parece o resto do mundo, gosta de ouvir e dançar nas festas. Claro que sempre vão existir pessoas que não vão gostar, que vão preferir arranjos mais complexos e letrar mais profundas. Esse fenômeno não é apenas brasileiro, artistas internacionais como, por exemplo, Lady Gaga também dominam as paradas musicais usando ritmos que contagiam as pessoas e embalam festas ao redor de todo mundo. Alguém já traduziu alguma música dela?com certeza não é nenhuma fonte de profundidade intelectual. Acredito que esses artistas e seus produtores tem méritos ao produzirem algo que seja tão facilmente consumido pelo mundo, e tal tarefa exija sim conhecimento de mercado e conhecimento musical também. Além disso, sinto que as críticas direcionadas a todas esses ícones de popularidade são as vezes um reflexo de pura inveja daqueles que não tiveram a mesma visão e inciativa de atingir objetivos semelhantes.

Criticar as pessoas que são responsáveis por tornar esses produtos populares, alegando, especialmente no caso do Brasil, que essas pessoas representam uma parcela sem cultura e desprovida de senso crítico é, na minha opinião, uma simplificação grosseira que não condiz com a verdade . Todos nós sabemos que o Brasil tem sérios problemas sociais, em que o acesso a educação é um dos pontos criticos nesse contexto. No entanto, não vejo essa camada desprivilegiada da população brasileira como a única responsável por tornar Michel Teló um sucesso de popularidade.  O poder aquisitivo necessário para consumir e popularizar algum artista com certeza não está nas mãos da camada mais pobre da população brasileira. Obviamente toda a força de divulgação nas mídias (tv e rádio) contribui muito para a popularização (especialmente para as camadas mais pobres que tem acesso mais fácil a rádio e tv). Contudo, o lucro desses artistas e suas gravadoras vem de shows e venda de cds (além de outros produtos relacionados ao artista), logo existe uma contribuição considerável de uma camada da população que não se enquadra nessa realidade de pobreza e falta de educação.

De toda a forma, essa posicão adotada pelos críticos ao popular é uma das posições mais confortáveis que existe. Gostamos de nos colocar como eruditos, "não escuto Axé, só samba de raiz...", "não assisto filmes de Holywood, só vejo os filmes do Almodovar...". Esses mesmo eruditos são aqueles que criticam a postura dos políticos e toda sua desonestidade, mas que no fim são os mesmos que furam fila, oferecem dinheiro para policias para não serem multados, sonegam imposto e estacionam em vaga de deficientes físicos. Por isso, sempre sinto o que chamo de "vergonha alheia" quando vejo os comentários das pessoas criticando o Michel Teló, argumentando sobre como isso é um reflexo falta de cultura da sociedade brasileira. Essas pessoas devem ser realmente corajosas e munidas de uma auto estima gigante, para acreditarem ser detentores de uma cultura e sabedoria tão grande a ponto de julgarem aquilo que é bom do que é ruim.

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